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Thursday, September 04, 2003

"Piú nessuno mi porterá al Sud"

Embora conheça os caminhos, não creio que chegue algum dia ao futuro com que sonho. Menos ainda se não tiver ninguém que me tome pela mão e me conduza e hoje não há ninguém que me leve ao futuro, só tu, com a tua doçura e a tua paciência e esse crença infindável que tens em mim, quase fé numa divindade tangível e impotente face à ruína dos dias.
Ninguém me levará a mim próprio como tu, só tu és capaz e é por isso que te aguardo sempre com a mesma esperança e a mesma fé e é por isso que estas palavras tomam rumo desta forma.
Estas não são promessas. As promessas são falaciosas quando se proferem e graves sempre que não se cumprem. Estas são evidências: ninguém, como tu, me lê com tanta avidez e ninguém como tu consegue fazer medrar a pequena vaidade que resulta da pureza da criação, a exuberância do primeiro dia e da novidade.
Contigo reaprendi a sonhar. Hoje sonho escrever e escrevo para que as ambições desencalhem e para que o amanhã seja possível mas, escrevo sobretudo para que me leias, primeiro tu, depois quem o destino queira e, mesmo que o destino enverede por outros meridianos que não sejam os vastos meridianos das palavras, continuarei a caminhar pelos espaços vazios de uma folha de papel como que caminha num transe mágico a caminho da felicidade porque sei que algures nesse universo, muito para além do tempo e do espaço, as minhas palavras cruzarão os teus olhos e nesse instante o mundo recomeçará para nós dois.
Solo tu mi porterai al Sud. Só tu me levarás à baía dos meus sonhos, timoneira amável de todos os meus dias. Estou à tua espera no cais da esperança.


Wednesday, September 03, 2003


Futuro...

Deixa que te fale do futuro como se o fossemos viver umbilicalmente ligados, como se fossemos apenas um a ocupar um tempo e um espaço, como se fossemos uma única parcela num dividendo de nós dois, deixa que te fale do meu futuro e tem-no como teu, deixa que sejamos os dois a atravessar o deserto do mundo, deixa que o deserto seja um e nós um também, uma sede, uma ânsia, uma vitória, e sempre dois, umbilicalmente um, uma apenas é a alma e de dois tudo se faz, o sorriso existe por ti e para ti, não se sorri por si só, a dois se conservam os instintos, de dois se abarca o milagre da vida e é de dois, um só, a dor da morte, e eis que erra a matemática e a física, nunca a dos corpos, não é três a conta que Deus fez, é dois, o Bem e o Mal, o Azar e a Sorte, Eu, Tu, Nós, o nosso sangue, dois, um e um que se procuram e que se libertam para serem um mais forte, e falo-te do futuro como se o fosse viver umbilicalmente contigo, segundo a segundo, passo a passo, tu em mim e eu em ti, a dois os projectos e as ambições, a dois a mecânica impensável do Universo e deixa que te fale do futuro , não é um fosso entre nós isso te garanto, o futuro está-nos prometido, eis o nosso grande destino, o pequeno é a distância e é a sombra de um ano longe de ti.
A sombra, que a luz diz-me que seremos sempre um, dois unidos pela certeza, pela confiança, pelo sangue, pelo fado, pelo sonho, pela esperança, porque sem ti não vencerei, serei sempre um naúfrago que erra os portos e a vida, isto sem ti, náufrago, contigo e por ti vencerei e desde já te digo como promessa ou jura ou confidência ou, como questão de mim para mim, sendo que eu sou tu também e tu és me a mim, que cada passo que darei estarás em mim e comigo, para que possamos ter, no dia do teu regresso, o espaço, senão o tempo, todo para nós.
Deixa me que te fale das asas com que voo.

Quando me deixas, um momento só
todas são as coisas graves.
Do refúgio sombrio de onde te escrevo
e quer e diz o meu sangue que me prescrevo,
são graves as sombras e as praças
as pombas alevantadas, as proezas, as desgraças.
São graves mesmo as pequenas maravilhas.
Graves na ausência, pobres no sentido
porque é uma maravilha pequena
nos teus lábios
quem cinge
ciência e profecia
à interpelação dos astros.

O mesmo te digo em palavras de todos os dias.
Não me encontro em qualquer outro lado
que não seja em ti e contigo
e não sei já com que elucidação distinga
os teus sonhos dos meus sonhos,
os teus medos de todos os meus,
com que asas corte a solidão das horas
e a amplitude brusca de tudo o que nos prende.
Com que olhar mostre ao oceano vasto
que quando me deixas, por um momento só
sou imensamente vazio.

As tuas mãos são a pausa breve dos meus dias.



Terça, 22 - Poemário


Senhora partem tão tristes, meus olhos por vós meu bem, que nunca tão tristes vistes outros assim por ninguém.
Estes são dos versos que trago comigo. Não me lembro desde quando ou mesmo se existe razão alguma que não seja por deleite mnemónico. Repeti-los é como entoar um verbo, a tabuada, uma oração. Com estes, alguns outros ajudaram a construir um falso poemário que trago comigo, poemário sem folhas, sem capa, sem papel, meia dúzia de versos, meia dúzia de rimas, nunca poemas completos .
Um poema, aliás, nunca se reitera e aporfilha por completo, há sempre algo que tomáramos conhecer, sempre variações nas palavras, percursos ocultos que tanto nascem na pena de quem os escreve como na alma de quem os lê.
Quem os escreve, escreve-os porque procura com eles uma certa sanidade da alma, neles cabe uma experiência de vida ou uma aspiração de futuro, um caminho que se percorreu ou um caminho que se sonha percorrer. Quem os lê mergulha num oceano crespo em sinergias , tenta navegar nas palavras dos outros como se navegasse nas suas próprias emoções e as palavras dos outros não são mais que um passaporte para esse plano infinito de grandeza que só as razões da alma parecem conhecer.
E a descoberta de um poema é sempre a descoberta da beleza em si mesma, um terramoto estético que derruba toda a aspereza dos dias e se instala com candura na raiz do coração de quem circula por entre as suas estrofes e imagens.
Alguns dos versos que trago comigo, nesse falso poemário disperso por leituras de escola e de insatisfação, trago-os porque são belos. Outros porque são sonoros. Outros porque são verdadeiros. Outros porque são verdadeiros e simples. Outros porque são nossos, Amor, e falam de como era querer-te antes de te perceber, de como é amar-te agora que te tenho e de como foste, és e serás sempre o meu poema mais belo.


Segunda, 21 (de Julho ainda...)

Pergunto-me muitas vezes, Amor, pela razão deste medo de olharmos de frente para a vida. Nós, que nunca tivemos na raia do olhar cintilação alguma de morte e que temos ainda todos os caminhos livres e vastos todos os horizontes.
Pergunto-me que rotas nos esperam e que desafios nos aguardam, as cintilações ou os esquecimentos que o destino poderá mascarar. Pergunto-me que navegação será a nossa e se valem a pena as mágoas, se vale a pena olhar para os dias como outra coisa que não sejam dias, como se não sejam passos de principiantes, aventuras que poderão não surtir surpresa mas surtem sim e sempre novidade. Um novo dia é pois uma nova oportunidade, um evangelho novo de páginas brancas e proscritas pela coragem dos teus actos, pela amplitude da tua ambição.
Pergunto-me muitas vezes se parte do nosso descontentamento, se a fragilidade dos sonhos não vive simplesmente do receio e da recusa dessa dádiva que é podermos viver os dias um após outro, de podermos olhar para a madrugada sem duvidar de que o sol possa nascer.
Pergunto-me também se o medo não é ambição e se ambicionar não será fracassar os pequenos indícios que enfeitam o mundo de próspera felicidade.
Quero viver contigo dia após dia imensamente a imensidão de cada dia. Sem máscaras, sem ambições desmedidas, sem megalomanias proclamadas, sem outro futuro que não seja o teu corpo como lar e o teu regaço como promessa. E assim poderei dizer um dia que não fracassei a felicidade.


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